Minhas dificuldades em reconhecer diferentes plantas continuaram no primeiro campo de trabalho a que fui enviada. Ainda tinha que contar com a boa vontade de pessoas que iam me apresentando as diferentes plantas, que falavam de suas culturas, que falavam de épocas propícias para uma e outra atividade.
Aprendi que o mundo podia parar em determinados dias. Chuva mandava mais do que lei religiosa, e seca não tornava ninguém mais apto ao convívio social. Vi que haviam orgulhos que nunca me seriam motivação, e haviam temores que sequer passavam por perto de mim. Mesmo assim, aprendi a entender as pessoas e não querer torná-las objetos de minhas transformações.
O tal “testemunho” falava bem mais do que qualquer outra atividade religiosa. O testemunho de pessoas agricultoras que perdiam tudo entre uma safra e outra, e recomeçavam porque havia vida ainda a ser cuidada, me fez tomar atitudes de vida e de busca por vida quando a morte apareceu para ser companhia. Resolvi ser tão “cabeça-dura” como aquelas agricultoras e aqueles agricultores.
E fui me arrependendo do veneno diário, trazido com a falta de compromisso com a vida. O lazer seria só instrumento para maior domesticação daquela gente toda? Nada parecia tirá-los dos compromissos, das tradições, do desamparo social.
Mas há tempo de seca e tempo de chuva. E, se por vezes, alguém usufruia de algum benefício diferente, não era por “merecimento” e sim por ter percorrido alguns caminhos que favoreciam este benefício. Entender que a graça era para ser usufruida por mais gente, foi algo a ser entendido devagarinho, sem pensar em “eleitos”, ou em “escolhidos”.
Trocar, pois, de cultura que só servisse ao mercado, por cultura de alimentação e melhoria no estilo de vida, trazia o medo de ficar com “panelas vazias” ou a vontade de voltar para o tempo de sofrimento. Mas era muito bom perceber algumas atitudes – nem sempre juvenis, e quase sempre de grupos – que davam à vida outro sabor.
Mesmo assim, sucumbi à dor. Como alguém que cansara de trabalhar no árido, segui conselhos que pediam a mudança. Nenhuma transformação, só mudança. A dor havia sido tão forte que deixara marcas até ao entrar no veículo que correra para o socorro da criança que morrera. A planta não vingara, o vento minuano deixara marcas nos meus sonhos.
Melhor tentar outra cultura, outra terra, outra vida... a saudade aparece ainda hoje, ao fechar os olhos, ao saber qual é a época do soja e da lebre faminta no meio da estrada, ao lembrar da visita no meio da madrugada a quem ficava “cuidando da estufa de fumo”, ao saber de dores e de alegrias de outras pessoas que ficaram por ali, naquela terra, naquele jeito de viver.
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Um comentário:
Voltei ao passado... Lembrei de tanta coisa...
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