Vida estudantil é recheada de novidades. Em caso não único, as novidades aparecem justamente em tempos de adolescência. A educação recheada de normas e limites havia passado. Era hora de saber conviver com os próprios limites, as descobertas individuais, as ressacas das opções mal feitas e as tragédias da frustração e da inexperiência.
Em épocas de descobertas, tudo pode acontecer. Descobri que maçãs podiam ser encaradas como frutos de terra rica. E que isso nem sempre as fariam ser bem vistas. Pinhões, então, não poderiam ser jamais consumidos sem aquela dor ecológica que os via como “fetos de araucárias” em crime ecológico. Eu estava sendo alvo de preconceitos que iam transformando meus gostos, meus costumes.
Descobri também que laranjas e bergamotas estavam acessíveis no terreno ao lado e que nem se precisava comprar. Abacates, eram partilhados por um professor que não queria comer toda a produção da árvore que estava em seu pátio. No início da semana, trazidas por gente que, como eu, fora aplacar a saudade das gentes queridas, apareciam frutas que antes só faziam parte de meu vocabulário: pitangas, jabuticabas... E eis que delas se faziam suco e sumo, gosto e bagaço. As frutas, e as pessoas que as traziam, riam de mim por não saber identificá-las. Eu estava aprendendo a lidar com gostos e costumes diferentes, provava-os para opinar, aprendia a degustar.
Além das frutas partilhadas, havia fruteiras e mercados abertos em horários nunca antes imaginados. E muito maior variedade de fruta. E foi neste tempo que fui aprendendo a conviver com outros gostos, costumes diferentes, regras diferentes, jeitos diferentes de se estabelecer convivência. Nada era previsto. Para tudo havia uma explicação e um entendimento.
As frutas podiam ser verdes e mesmo assim estarem sujeitas a receitas de algum lugar que não as esperava amadurecer. Sendo maduras, consumíveis ora com sal, ora com açúcar. Se passavam da época, havia ainda algum doce a ser feito... Havia conselhos para se ater ao gosto da fruta, goiaba, por exemplo, para que o horror, a outros animais que a devoravam na mesma hora, pudesse ser superado.
Para todas as frutas haviam maneiras diferentes de serem preparadas, de serem degustadas. Fui desenvolvendo uma certa curiosidade em experimentar frutas diversas e fui aprendendo a distinguir algumas.
Mesmo assim, aconteciam certos dissabores.
Haviam as frutas esquecidas em alguma bolsa de viagem e descobertas somente na hora de se preparar as malas novamente. Haviam as frutas rejeitadas por não serem populares. Foi assim que fui aprendendo que tinha que desfrutar, partilhar, aproveitar cada oportunidade de convivência, de conversa, de conhecimento que se revelava maior do que a simples leitura e discussão em sala de aula. Afinal de contas, havia gente que, por mais que soubesse matérias e conteúdos, em si só, já o eram fonte de inspiração e de percepção do diferente. Havia gente que não elaborava conteúdo teórico algum, e por si só mostrava que minha teoria podia apodrecer até a próxima viagem.
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Um comentário:
E não só na adolescência, as novidades até hj persistem, coisas, gentes, comidas, vivências...Talvez com sabores diferentes,mas a cada dia se apresentam a nós novamente.Prazer em partilhar um cadinho disso...
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