Entre maçãs e pinhões me criei. Na serra faz frio que não agrada outras frutas. Para saborearmos bergamotas (tangerinas) e laranjas visitávamos parentes que moravam a 40, 60km. Nada ruim pra quem gostava de viajar nos anos 70. Eram autênticas viagens com direito a passar mal na ida e na volta, com direito a panes nos carros e brigas entre irmão e irmã.
Hoje, ir 40 a 60 km nem é mais viagem, não faz ninguém enjoar, com meu irmão não brigo mais, e as panes... bem, elas podem acontecer, inclusive nos ônibus que utilizei em tantos trajetos. Em todo o caso, nas fruteiras e mercados daqui, se encontra tudo que é fruta, até “abacaxi da praia”, que era muito mais festejado que laranjas do céu ou bergamotasde casca grossa. Quanto a fruteiras e mercados, diga-se de passagem, que o que havia na serra, de fruta “de fora”, eram bananas que vinham para um mercado específico, solenemente instalado e que só muito mais tarde virou fruteira de artigos variados.
Pinhões eram sapecados no inverno, com direito a serem vítimas do nervosismo de copas do mundo ou de olimpíadas em países distantes. Claro que quase sempre eram os tais comunistas ou gente pobre que venciam essas disputas. Os comunistas venciam porque apanhavam, e esta era a única chance de atletas fugirem daqueles regimes horrorosos. Os pobres – brasileiros, de preferência - venciam porque, bem... tinham sonhado e chegado lá. Essas duas explicações nunca se confundiam, já que pinhões e maçãs também não.
Pinhões eram saboreados em rodas de gente amiga, que conversava enquanto a panela fervia, conversava da escola das crianças, dos desvios da juventude, da graça dos recém-casados, da vinda de bebês, de problemas de casamentos, de morte de gente conhecida...
Já as maçãs podiam ser degustadas no verão. Mas no inverno havia a possibilidade de, se bem guardadas, fazê-las assadas, cheias de açúcar e lambuzo no fogão. Maçãs eram colocadas em bolos, em doces, maçãs eram componentes de refrescos e de chás. Íamos convivendo tão bem com as maçãs que elas nem eram assim tão percebidas. Havia outras, vendidas embaladas em papéis azuis, inacessíveis a dias comuns. Em dias incomuns, o gosto era muito sem graça. E a explicação era de que eram tão de longe que ao chegarem às nossas mãos tinham perdido o gosto. Essa também era a explicação das “melhorias” que teriam vindo com o governo militar. Vai ver que era bom nas e para as cidades maiores, mas para nós, não tinha muito o que se desfrutar...
Em todo o caso, maçãs eram maçãs, pinhões eram pinhões. Nunca tive alguma dúvida em reconhecer a diferença. O problema foi acontecendo quando fui morar “lá pra baixo” da serra.
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