Dá-nos o pão de cada dia... Mt 6.11
(tema do ano 2010)
Ensino minhas crianças a orar. A princípio, as orações são pessoais, que dizem respeito diretamente ao pequeno mundo que elas vão descobrindo. Depois, passo a ensinar orações aprendidas de outras pessoas, de outros momentos. Algumas são cheias de termos novos para as crianças.
É comum, pois, aparecerem perguntas sobre “misericordiosamente”, “benignidade”, “honra”, e outros tantos termos – bonitos – mas nem sempre muito usados.
E, claro, é uma alegria quando sabem orar, com grupos, com a comunidade, a oração do “Pai-Nosso”. É uma oração que nos vincula a tantas outras pessoas, no mundo inteiro. Dizem que mais de dois milhões de pessoas oram o “Pai-Nosso” a cada domingo. É muito bom saber que se faz parte de um número tão grande.
Se fosse um programa de TV, que calculasse o número de “chamadas”, usando o mesmo “DDD” (discagem direta a Deus), o programa seria um sucesso. Ainda bem que não precisamos pagar nem taxas, nem impostos para fazer parte desta turma.
Na oração do Pai-Nosso, há uma frase que pede pelo “pão”. Há muito tempo conheço a definição de Martim Lutero para o “pão”. E sempre fico muito feliz por estar pedindo, por meio do “pão”, tudo que preciso para viver (sejam coisas necessárias para a sobrevivência, sejam vínculos necessários para a vida).
Mas, foi uma frustração esperar que as crianças pedissem explicação sobre o termo. Eu estava tão preparada para contar a eles, e... eles preferiram perguntar onde eram os “céus”, o que eram “dívidas”, o que era “glória”.
É que pão é uma coisa tão óbvia, não? Faz parte do dia a dia. Ainda mais, se num feriado prolongado, se “inventa” de amassar e assar o pão em casa. Aí é mais óbvio: pão é a mistura de farinha, com outros grãos, com sal, com óleo. Dá pra procurar imagens de campos de trigo, de espigas de trigo, de gente trabalhando lá na roça. Dá pra procurar imagens de gente trabalhando pra fazer muito mais pão do que vai consumir, desde a madrugada, para que gente, na cidade, possa ter pão todos os dias. É gostoso quentinho, é gostoso quando saboreado com amigos e amigas que ajudaram a amassar e assar o pão.
Mas o pão de cada dia é “engolido” na pressa do cotidiano, na praticidade da energia reposta com rapidez e sem maiores preocupações. Claro que se definem os gostos ali: ora, é pão francês, ora é pão italiano, ora é cheio de outras sementes, ora é branco puro. Mas, escolhido o “tipo”, não se pensa mais nisso.
Gente de igreja ama ficar explicando o que Jesus ensinou. Por isso, as perguntas são bonitas, porque falam de palavras difíceis, de um jeito que só é comum para pessoas “iniciadas” na religião. Melhor ainda, quando grupos diferentes falam as mesmas palavras, reclamam de outras palavras. Parece dar “identidade” ao grupo: todos sabem do que se está falando.
Então, colocar o pão numa oração foi algo muito “simples”. Pensar que foi Jesus que ensinou nessa simplicidade toda, dá certa “responsabilidade”.
E é aí que a gente vai vivenciar o óbvio da oração de Jesus: Jesus pede a Deus. Força, coragem e amor não vêm de dentro da gente. Vem de Deus. Jesus pede pão: tão corriqueiro e tão simples. Jesus fala num pedido pra mais gente: nosso! E pede para o dia – diário – não pra vida inteira e nunca mais.
Culpar sistemas, pessoas, organizações é relativamente fácil. Difícil é pedir por ajuda, pedir pão. Difícil é perceber que não vivemos sozinhos. Para pedir pão, precisamos cuidar da terra, do trigo, de empregos, da “sustentabilidade” do mundo.
O pão nosso de cada dia dá-nos hoje: que a justiça e a bondade nos sejam diárias; que saúde, trabalho, lazer, moradia e locomoção sejam partilhados; que passemos adiante – em misericórdia – o que recebemos benignamente de Deus.
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