segunda-feira, 26 de abril de 2010


Quando o conheci, era o primeiro pastor “não-alemão” por ali. Será que trabalharia tanto quanto os outros?, diziam. Deixava brincarem com seu sobrenome, como se os sobrenomes germânicos não tivessem, também, significado.

Encontrei-o mais tarde, e de um jeito bem esquisito, fomos trabalhar juntos. Caminhar juntos, ele repetia. Eu achava graça que ele acreditava nisso. Achando graça, eu trabalhei junto. É, caminhei junto. Mesmo querendo ser anarquista, não querendo ser igual a ele.

O jeito diminutivo que me chamava, dava conta do tempo enorme que nos conhecíamos. Mesmo que eu tivesse dobrado de tamanho no decorrer dos anos, o apelido me era carinhoso.

Mas ele cansava. A foto foi um momento desses. Do tipo: será que vocês não vão sair disso? E às vezes, ele quis que os limites fossem mais claros. Reclamou da minha passividade. Empurrou algumas decisões difíceis. E segurou outras tantas mais difíceis ainda.

Admirei-me de sua capacidade em mudar de opinião. A redação inclusiva de gênero foi incorporada muito rapidamente depois da primeira discussão. Ríamos de palavras nem sempre bem empregadas, já que tradução nem sempre ajudava a tradição. E ele riu da minha dificuldade em usar brincos usando o talar.

Há muitas saudades, hoje. O texto da pregação era sobre a ressurreição de Tabita/Dorcas. E aqui está a necessidade de mostrar “os vestidos” que Homero ajudou a fazer. Como aquelas mulheres, deu vontade de ficar querendo que a ressurreição acontecesse num ato mágico, repentino, no meio duma briga teológica.

E a gente descobre que a ressurreição é mais do que ter o HSP de volta. Descobre que ainda temos um monte de preconceito entre nós, descobre que temos uma dificuldade ainda maior em colocar limite, mas descobre que houve vida. E que aprendemos muito com essa vida.

Contei-lhe, no último café que tomamos, dos brincos que ganhei das mulheres da Paróquia. Fiquei devendo um texto sobre vocação luterana de jovens adultos, a partir de seu relato apaixonado sobre o trabalho da Catarina.

O tio Homero ensinou um outro jeito de trabalhar, sim. Menos alemão, mais camarada, menos competitivo, mais “pastoral”. Nossas diferenças podem ser trabalhadas olho no olho, face a face, sem precisar utilizar o escárnio indireto. É. O cara trabalhava pra caramba.

Um comentário:

Roberto disse...

muito tocante, marga!